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A Psicanálise Winnicottiana na Educação: A Acolhida Transformadora

A Psicanálise Winnicottiana na Educação: A Acolhida Transformadora

 

Introdução

A relação entre psicanálise e educação tem sido um campo de estudo e reflexão desde os tempos de Freud. No entanto, foi com o pediatra e psicanalista britânico Donald Winnicott que essa conexão ganhou uma nova e profunda dimensão. Winnicott trouxe para o debate educacional conceitos essenciais, como o da “mãe suficientemente boa”, que se expandem para a figura do educador. O que acontece quando a escola se torna um espaço de acolhimento emocional e não apenas um local de transmissão de conteúdo?

Este artigo explora como a teoria winnicottiana pode enriquecer a prática pedagógica, focando não somente na aquisição de conhecimento, mas também no desenvolvimento emocional e na saúde mental do aluno. O objetivo é demonstrar que a aprendizagem mais significativa ocorre em um ambiente de confiança e segurança, onde o sujeito se sente visto e compreendido em sua totalidade.

 

A Relação Professor-Aluno na Perspectiva de Winnicott

Winnicott nos ensinou que o desenvolvimento saudável da criança depende de um ambiente de cuidado e sustentação, o que ele chamou de Holding. Essa função, inicialmente exercida pela mãe, pode e deve ser replicada em outros ambientes sociais, como a escola. O professor, neste sentido, assume o papel de um “adulto suficientemente bom”. Ele não precisa ser perfeito, mas precisa ser capaz de oferecer um ambiente seguro onde o aluno possa se expressar e se desenvolver.

Essa dinâmica é intrinsecamente ligada ao conceito de transferência e contratransferência. O aluno, inconscientemente, pode transferir para o professor sentimentos e expectativas que tem em relação a outras figuras de autoridade. Por outro lado, o professor também reage a isso, em um movimento de contratransferência. A psicanálise na educação ajuda o educador a reconhecer e a manejar essa dinâmica de forma consciente, transformando-a em uma ferramenta de aprendizado. Para aprofundar a compreensão desse tema, você pode buscar mais informações sobre a relação terapêutica no site www.exitopsicologia.com.br.

 

A Importância do Brincar e da Criatividade na Aprendizagem

Para Winnicott, o brincar não é apenas uma forma de entretenimento. É a atividade central da vida, onde a criança pode ser criativa, experimentar o mundo e construir sua subjetividade. Ele chamou o espaço onde isso acontece de “espaço potencial”. Este é o terreno fértil entre a realidade interna do sujeito e a realidade externa do mundo.

A escola, ao adotar a perspectiva winnicottiana, deve ser um ambiente que estimule esse espaço potencial. Isso significa que a criatividade, a experimentação e a capacidade de usar símbolos são tão importantes quanto o aprendizado formal. Ao permitir que os alunos se envolvam em atividades lúdicas e criativas, os professores não apenas os ajudam a absorver o conteúdo, mas também a desenvolverem sua capacidade de pensar, de se relacionar e de resolver problemas de forma autônoma.

 

O Papel da Escola como Espaço Transicional

A escola, segundo a teoria de Winnicott, atua como um espaço transicional para a criança ou o adolescente. É o lugar onde eles começam a se mover do ambiente protegido da família para o mundo social mais amplo. Nesse processo, é natural que surjam angústias, medos e frustrações. Por outro lado, o ambiente escolar precisa ser capaz de acolher essas emoções, oferecendo um porto seguro.

A agressividade, que Winnicott via como uma energia vital essencial, precisa ser contida e canalizada de forma construtiva. O educador, com uma escuta atenta, pode ajudar o aluno a dar sentido a esses sentimentos e a transformá-los em energia para a aprendizagem e para o crescimento. É nesse ambiente que o sujeito pode construir sua própria identidade, sua autonomia e sua capacidade de lidar com as complexidades da vida. Além disso, a abordagem psicanalítica permite que o professor veja além do comportamento visível, compreendendo as necessidades emocionais subjacentes.


 

Sigilo Profissional

É fundamental ressaltar que a aplicação dos conceitos psicanalíticos na educação não substitui o trabalho clínico. A cautela e o sigilo profissional são essenciais. O professor, em seu papel nobre e desafiador, é uma figura de acolhimento e escuta diária para inúmeros alunos, um verdadeiro herói que se desdobra para nutrir mentes e corações em formação. A ele, cabe a difícil tarefa de ser um porto seguro, um guia e um incentivador, muitas vezes enfrentando obstáculos e pressões que ultrapassam os limites de sua formação.

Estudos recentes indicam a gravidade do adoecimento de professores por excesso de trabalho. De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), mais de 150 mil professores da rede pública foram afastados de suas funções em 2023 por motivos de saúde mental, com destaque para a depressão e a síndrome de burnout. Nesse contexto, a sobrecarga de trabalho e a tentativa de assumir múltiplos papéis, inclusive o de terapeuta, podem ser devastadoras.

O papel do psicólogo, por sua vez, é mais específico e técnico. Ele detém a capacidade de realizar uma escuta aprofundada, com o devido sigilo e as ferramentas clínicas necessárias para a intervenção. Essa distinção é crucial, pois a tentativa de assumir ambos os papéis pode sobrecarregar o professor e comprometer a eficácia do tratamento do aluno. Quando a situação excede a capacidade da escola de lidar com ela, o encaminhamento para um profissional de saúde mental, como um psicólogo clínico, é crucial e demonstra o respeito e a responsabilidade com o desenvolvimento do indivíduo.


 

Conclusão

A teoria de Winnicott nos convida a repensar a educação. Ela nos mostra que o processo de ensino-aprendizagem não se limita à transmissão de fatos e conceitos, mas que se enraíza na experiência humana. Uma educação que se apropria dos conceitos winnicottianos é mais humanizada, completa e atenta às necessidades do indivíduo.

A escola, ao adotar a perspectiva da psicanálise, torna-se um lugar de acolhimento e de transformação. Ao valorizar o desenvolvimento emocional e a criatividade, os educadores podem ajudar a formar não apenas cidadãos mais informados, mas seres humanos mais integrais, capazes de se apropriar do mundo de forma única e significativa.


 

Fontes de Pesquisa:

    1. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752010000100007
    2. https://www.scielo.br/j/er/a/BkTZcG7YGLqZSxbb6C5yLNG/?lang=pt
    3. https://revista.cognitioniss.org/index.php/cogn/article/download/374/307/794
    4. https://blog.ipog.edu.br/saude/psicanalise-e-educacao/
    5. https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/psicologia/a-educacao-e-a-psicanalise.htm
    6. https://vocesa.abril.com.br/carreira/depressao-e-burnout-sao-as-principais-causas-de-afastamento-de-professores-no-brasil/

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